Veículo: Valor Econômico
Data: 30/08
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SÃO PAULO (Valor Econômico) – Está previsto em lei e nos contratos de concessão que as empresas concessionárias, permissionárias ou autorizadas de distribuição, transmissão e geração de energia elétrica devem aplicar anualmente um percentual mínimo de sua receita operacional líquida no Programa de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) do setor de energia elétrica. Embora o dinheiro para a inovação esteja garantido, é preciso que as empresas olhem para o futuro e façam escolhas certeiras na hora de definir projetos.
Até 31 de dezembro de 2022, os percentuais mínimos serão de 0,50%, tanto para pesquisa e desenvolvimento como para programas de eficiência energética na oferta e no uso final da energia. A partir de 1º de janeiro de 2023, para as concessionárias e permissionárias cuja energia vendida seja inferior a 1.000 GWh por ano, o percentual mínimo a ser aplicado em programas de eficiência energética no uso final poderá ser ampliado de 0,25% para até 0,50%. Cabe à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) regulamentar o investimento no programa, acompanhar a execução dos projetos e avaliar seus resultados.
“Apesar de temos tido resultados interessantes, ainda está longe do ideal”, acredita Luis Antonio Semeghini de Souza, sócio-fundador do escritório de advocacia Mello Torres e especialista no setor de energia. Segundo ele, o segmento ficou consolidado em tecnologias antigas por décadas, mas a dinâmica tem mudado com o avanço da tecnologia digital. “O Brasil deveria centrar forças na pesquisa em smart grid. Essa é a chave”. Smart grids, ou redes inteligentes, são os sistemas de distribuição e de transmissão de energia elétrica que foram dotados de recursos de tecnologia da informação e de elevado grau de automação, de forma a ampliar sua eficiência operacional.
A CPFL Energia, que leva energia a 9,1 milhões de clientes, teve, em 2017, um orçamento de R$ 45 milhões para P&D. “Temos uma área de inovação que fomenta projetos que são realizados em parceria com universidades, institutos de pesquisa e startups”, explica Renato Povia, gerente de inovação da empresa.
Um exemplo é o Emotive, sobre mobilidade elétrica. O projeto, que teve início em 2013 e terá duração de cinco anos, consumirá, no total, R$ 21,2 milhões e tem como parceiras a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD). Seu objetivo é construir um Laboratório Real de Mobilidade Elétrica na Região Metropolitana de Campinas, com a instalação de dez eletropostos públicos e a circulação de 16 carros elétricos do programa.
O projeto permite ainda a coleta de dados sobre as diversas aplicações e implicações da tecnologia, possibilitando o estudo e o aprofundamento dos impactos dos veículos elétricos para o setor. Entre os temas estudados estão: o impacto na rede elétrica e no planejamento da expansão do sistema; o uso dos veículos elétricos como fonte de geração distribuída; os aprimoramentos regulatórios e legais; o ciclo de vida e reaproveitamento das baterias; o estudo de tarifas e cobrança e a proposição de um modelo de negócios para a mobilidade elétrica no Brasil.
A ISA CTEEP opera uma rede de transmissão, por onde trafegam 24% de toda energia elétrica produzida no Brasil, 60% da eletricidade consumida no sudeste do país e quase 100% no Estado de São Paulo. Seu sistema elétrico é composto por 18.642 mil quilômetros de linhas de transmissão e 126 subestações com tensão de até 550 kV.
No âmbito do Programa de P&D da Aneel, a empresa já acumulou, desde 2001, um investimento de R$ 72,8 milhões em 106 projetos e 11 pedidos de patentes, envolvendo centenas de colaboradores e mais de 25 parcerias com instituições de ensino, empresas e centros de pesquisas.
O destaque é um projeto de armazenamento de energia. Junto com a USP e o CPqD, a ISA CTEEP estuda como usar as baterias de lítio da melhor forma no sistema elétrico. De acordo com Rafael Noda, diretor de relações institucionais da empresa, esse projeto é importante porque as baterias vão funcionar como uma caixa onde será guardada a energia.
“O uso de fontes de energia renovável como a solar e a eólica vem crescendo, o que é ótimo, mas sua geração é intermitente. É fundamental criar um sistema de gerenciamento dessa intermitência. As parcerias com as universidades são fundamentais. O mercado e a academia são complementares e precisam ter sinergia”, afirma Noda.